sábado, 26 de setembro de 2009

A argumentação

O trabalho da filosofia é sobretudo um trabalho de discursividade argumentativa.
O que é um discurso argumentativo? Como primeira definição, podemos dizer que o discurso é a transmissão ou verbalização do nosso pensamento, e que um argumento é um conjunto de proposições organizadas tendo em vista a defesa de uma determinada tese ou ponto de vista.

Ora, a filosofia é de facto um trabalho de diálogo e troca de impressões sobre determinado assunto. Por isso, o debate pode e deve ser um primeiro momento de trabalho filosófico. No debate não temos necessariamente de chegar a um consenso e a um acordo sobre determinada ideia, porque o que é importante é a partilha de ideais.

No entanto, estes debates são sobretudo argumentativos, isto é, tentamos sempre convencer o outro, ou melhor damos razões aos outros para aderirem à minha ideia; mas se tal acontecer, não deixa de ser vantajosa a partilha de ideias.

No entanto, para que o debate tenha êxito temos de saber as regras que devemos seguir para construir um discurso e os instrumentos que devemos utilizar. É um segundo nível metodológico do trabalho filosófico.

Quando elaboramos um discurso (conjunto de raciocínios que defendem a nossa tese) temos de ter em conta três planos de regras: linguísticas, lógicas, argumentativas

Plano Linguístico

Plano lógico- demonstrativo

Quando construímos um discurso temos de ter em conta 3 elementos que são os instrumentos do pensamento:
Conceito
Juízo
Raciocínio

O espanto e a admiração

A filosofia permite-nos viver despertos, acordados para o sentido das coisas e mostra-nos que nem tudo o que parece é.
Por isso é importante analisarmos e reflectirmos sobre cada situação que vivemos.
Esta análise e reflexão são feitas primordialmente sobre a forma de pergunta.
Pode objectar-se que todos nós fazemos perguntas sem sermos necessariamente filósofos, ao que se contrapõe o facto de a pergunta filosófica ser de um tipo muito especial.


A pergunta filosófica é de um tipo muito especial já que não é feita ao acaso, mas de uma forma consciente e verdadeiramente sentida. Por isso se costuma distinguir entre o filosofar espontâneo e o filosofar sistemático.

Quando tudo o que nos rodeia é no mínimo estranho e diferente como quando somos crianças temos tendência a questionar essa realidade e a interrogar tudo o que se passa à nossa volta. A curiosidade e ânsia de conhecer, que caracteriza a filosofia é uma necessidade natural e automática presente em todos nós; por isso se costuma dizer que todos nós somos um pouco filósofos.
Esta atitude questionante leva-nos, contudo, a pensar que já conhecemos tudo, levando-nos por vezes a viver iludidos. Porquê? Porque uma das maiores lições que a filosofia nos dá é que a realidade não é o que nos parece à primeira vista. Por isso, nunca devemos deixar de nos questionar sobre o que nos rodeia e sobretudo com uma atitude diferente, mais sistemática. Por isso falamos de dois tipos diferentes de filosofar: um filosofar espontâneo em que as perguntas são espontâneas, distraídas e automáticas, e um filosofar sistemático em que as perguntas são deliberadas, intencionais e conscientes.


Poderíamos dizer que a sabedoria popular, como os ditados popular, coloca algumas questões espontâneas que no fundo são filosóficas. Por exemplo, o ditado Quem vê caras não vê corações ou Nem tudo o que reluz é ouro diz respeito à questão da aparência e realidade.


Mais quais são os objectivos da filosofia ?
- despertar
- viver de forma consciente
- adquirir conhecimento e saber
- descoberta de si
- procura do sentido da vida
- formação da personalidade e do carácter
- desenvolvimento do pensamento
- aprendizagem da arte de viver.


Para alcançar estes objectivos são necessárias várias condições:
- observar tudo com atenção e conscientemente
- interrogação contínua sobre tudo o que nos rodeia
- reflexão cuidadosa
- treino sistemático do pensamento
- desenvolvimento de um diálogo tolerante
- elaboração de ensaios escritos.
Estas condições são também aquilo que caracteriza o filosofar sistemático face ao filosofar espontâneo.


Mas que tipo de actividade é a actividade filosófica?

A filosofia é uma actividade de reflexão sobre determinadas questões que o homem considera problemáticas, enigmáticas, sendo necessário tentar descobrir o seu significado e sentido. Filosofar é reflectir sobre elas.

No entanto, é também uma actividade de interpretação, de hermenêutica, ou seja, à filosofia cabe tentar perceber o sentido de certas afirmações e mesmo de respostas que se dão às perguntas filosóficas.

Neste sentido, podemos dizer que é também uma actividade interrogativa, clarificadora e argumentativa, colocando questões, ensaiando respostas e defendendo teses.

No fundo, a filosofia é uma actividade de questionamento e compreensão das coisas mais comuns e em que habitualmente nem reparamos.

Resumindo, a filosofia é uma actividade problematizadora, e crítica, que podemos resumir em aspectos como:
- reflectir
- interrogar
- debater
- duvidar
- questionar
- investigar/ procurar
- fundamentar
- argumentar
- clarificar



Logo, ser filósofo é:
- Espantar-se, admirar-se, surpreender-se;
- Manter uma postura crítica sobre os problemas que nos surgem na vida;
- Estar invadido por uma curiosidade insaciável;
- Querer saber o porquê das coisas;
- Ser um “perguntão”
- Questionar o que parece óbvio;
- Fundamentar as suas ideias;
- Saber argumentar em defesa das suas teses.