terça-feira, 13 de outubro de 2009

Utilitarismo



Teoria ética contemporânea defendida por Jeremy Bentham e Jonh Stuart Mill no século XIX e por R.M. Hare e Peter Singer no nosso tempo. Muito criticada mas muito influente nos nossos dias.Para estes utilitaristas, a intenção e os princípios de acção não interessam; o que é valorizado e tido em conta são as consequências, os efeitos da nossa acção. Aí reside o valor moral da nossa acção.



O princípio desta teoria é o da utilidade: ou o princípio da maior felicidade, já que é bem aquilo que trouxer a maior felicidade global.Ou seja, uma opção moral é melhor do que outra se, e só se, tiver melhores consequências ou resultados que outra. Mas melhores resultados para quem?Devemos promover o bem-estar e a felicidade de todos aqueles que são afectados pelas nossas acções (o maior número possível de pessoas), ao contrário do egoísmo ético (o meu bem-estar, a minha felicidade).Ou seja, uma boa acção é aquela que tiver mais possibilidades de trazer- a maior felicidade- ao maior número possível de pessoas.




UM EXEMPLO DA PROCURA DO MAIOR BEM PARA O MAIOR NÚMERO DE PESSOAS



O João, um cientista em viagem pela América do Sul, chega a uma pequena aldeia em que está prestes a ocorrer uma execução pública. O Pedro, um militar, reuniu vinte índios e prepara-se para ordenar a sua execução. Explica ao João que esses vinte índios não são criminosos: são pessoas inocentes escolhidas ao acaso entre os habitantes da aldeia, que tem protestado contra o Governo. O João mostra-se desconfortável perante uma tal injustiça. Ao aperceber-se do seu desconforto, o Pedro faz-lhe uma proposta: se o João estiver disposto a matar com as suas próprias mãos um dos índios, ele deixará os outros dezanove partir em liberdade. É claro que se o João recusar esta proposta, tudo decorrerá como estava previsto e os vinte índios serão executados.Deverá o João aceitar a proposta de Pedro?Qual a resposta do utilitarista? Se o João não aceitar a proposta, 20 pessoas morrerão, enquanto que se aceitar, só uma delas morrerá. Assim, vistas as coisas de uma perspectiva imparcial, aceitar a proposta tem melhores consequências do que não aceitá-la e por isso o João deve escolher um índio e matá-lo. Para reduzir tanto quanto possível as más consequências, deverá escolher um índio que seja mais velho ou que esteja já mais doente. É claro que matar uma pessoa irá provavelmente deixá-lo angustiado e com sentimentos de culpa, mas salvar dezanove vidas certamente compensará a morte provocada e o seu sofrimento.

Qual a resposta das éticas deontológicas como a de Kant? Para o deontologista, as consequências dos actos não são tudo o que devemos ter em conta quando agimos. Certos actos são intrinsecamente errados, independentemente das suas consequênciasPara os utilitaristas o que torna as nossas acções certas ou erradas é a conformidade ao princípio de utilidade (o maior bem para o maior número); falta-nos saber o que torna a nossa vida boa ou má.Fazer o que está certo é uma questão de produzir boas consequências e evitar más consequências.Mas em que consistem as boas consequências? O que torna a nossa vida boa ou má?Quando falam de boas consequências, os utilitaristas têm em mente a felicidade ou o bem-estar produzido pelas acções.Então em que consiste a felicidade ou o bem-estar?

Nos utilitaristas clássicos, a felicidade surge como um prazer. São, por isso, hedonistas: defendem não só que o bem-estar consiste apenas em experiência aprazíveis (bem como na ausência de experiências dolorosas), mas também que tais experiências são boas apenas pelo simples facto de serem aprazíveis, e não por outra razão qualquer.Segundo Bentham, cada um dos diversos prazeres e dores da vida da pessoa tem um certo valor, que em última análise é determinado apenas por duas coisas:- a sua duração e- a sua intensidade.Um prazer é tanto melhor quanto maiores forem a sua intensidade e a sua duração.

Assim, os utilitaristas depararam-se com o problema de calcular ou medir a quantidade de bem que determinada acção provocaria, neste caso, a intensidade e a duração de um prazer é o que norteia a nossa acção.Exemplo: O prazer de comer chocolate durante 10 minutos, por exemplo, é em geral, melhor do que o prazer de comer pão durante dois minutos.OuAs dores serão tanto piores quanto maior for a sua intensidade e a sua duração.Exemplo: Estar no dentista durante uma hora não é tão mau como soferer com dor de dentes durante várias semanas.Assim, para promovermos o nosso bem-estar temos de fazer bem as contas de modo a obter um saldo tão favorável quanto possível.


Exemplo: Leva-nos a privarmo-nos de certos prazeres como comer chocolate de forma a evitar sofrimento futuro (como ter dor de dentes) ou então leva-nos a sujeitarmo-nos a um certo sofrimento como ir ao dentista para evitar um certo sofrimento ainda maior (como continuar indefinidamente com dor de dentes). Bentham tem, então, uma visão puramente quantitativa do bem-estar. Pressupõe que os prazeres e as dores são mensuráveis: determinamos a intensidade e a duração de um prazer (ou dor), multiplicamos uma pela outra e obtemos o valor desse prazer; depois fazemos o mesmo a outro prazer e por fim podemos compará-los para ver qual tem mais valor e para agir em conformidade com o resultado.Por exemplo:Definimos uma escala de valores como de 0 a 10 e classificamos determinado prazer quanto- à sua intensidade (5) (5)- à sua duração (5) (4)= (25) ( 20)É este o cálculo da felicidade encontrado por Bentham.A melhor vida é aquela em que, considerados todos os prazeres e todas as dores que a constituem, apresenta o saldo mais positivo. Além da intensidade e da duração, nada mais faz um prazer ser intrinsecamente melhor do que outro.Esta perspectiva de Bentham foi criticado por alguns atores que consideraram que este tipo de hedonismo conduziria a um sensualismo, à adopção de um modo de vida luxurioso. Por isso, Stuart Mill propõe outro tipo de hedonismo.


Segundo Mill, alguns tipos de prazeres são, em virtude da sua natureza, intrinsecamente superiores a outros. Distingue entre



- prazeres superiores



- prazeres inferiores



e para vivermos melhor devemos dar uma forte preferência aos prazeres superiores, recusando-nos a trocá-los por uma quantidade idêntica ou mesmo maior de prazeres inferiores.Mill identifica os prazeres inferiores com os prazeres corporais e os prazeres superiores com os prazeres que resultam do exercício das nossas capacidades intelectuais, alegando que esta identificação resulta do veredicto daqueles que conheceram e avaliaram ambos os tipos de prazeres.


Robert Nozick criticou qualquer tipo de hedonismo utilitarista, criando o argumento da máquina de experiência (espécie de máquina virtual que substitui toda a nossa vida, proporcionando-nos apenas as experiências que queremos.Se o hedonismo fosse levado até às últimas consequências, deveríamos ligar-nos à máquina de experiências sem qualquer hesitação, pois assim a nossa vida seria muito mais rica em prazeres. Com base nesta crítica, o utilitarismo contemporâneo evoluiu, com Peter Singer e R.M.Hare, para um utilitarismo de preferências e não hedonista. Pressupõe que o bem-estar a ser promovido consiste, não em experiências aprazíveis, mas na satisfação de desejos ou preferências.

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